domingo, 5 de junho de 2011

UM TEXTO ATUAL

UM TEXTO ATUAL
Benedicto Monteiro
Como não existe mais uma diferenciação nítida entre os gêneros literários, não sei como classificar o texto de Flávio Nassar. Em época de televisão pode-se dar a ele o nome de escript. Serve para montar uma novela, uma minissérie, uma peça de teatro ou um roteiro de cinema. Também pode-se tirar dele um programa de eventos. Pois evento, é uma palavra que substitui sofisticadamente o termo de acontecimentos. O evento pode ser tudo o que aconteceu ou ainda vai acontecer.
Como o autor mesmo diz no seu prefácio, a inspiração surgiu em razão do manuseio do computador. Já é um produto influenciado pela tecnologia da informática. Por isso, o próprio autor me obriga a classifica-lo como um gênero da nova escrita. Acho que Flávio Nassar produziu um rico e excelente hipertexto. Para quem não sabe, hipertexto, é uma nova forma de se escrever para divulgação na internet.
As obras literárias escritas de forma convencional, para serem lidas na internet, ocupariam um espaço e um tempo incompatíveis com a pressa da modernidade. Daí o surgimento do hipertexto. Escritos de forma que o texto básico do ensaio, do conto ou do romance, tenham links capazes de esclarecer ou aprofundar a matéria nos seus mais importantes detalhes. Basta clicar no link que aparece, na tela, todos os dados ou detalhes, da figura, da pessoa ou do fato que faz parte da escrita.
Aliás, esse assunto da televisão concorrendo com a escrita, já é um debate que se trava na Europa, entre os intelectuais e os responsáveis pelas indústrias gráficas. A televisão, como todo mundo sabe, tem meios que passam a informar melhor e mais rapidamente os telespectadores, que as obras escritas. As imagens, a fala, a música, os efeitos especiais, dão ao telespectador comum, melhores entendimentos dos fatos e das emoções, que as páginas escritas num conto ou num romance.
Nem sempre o cinema e a televisão conseguem transferir para as telas, com fidelidade, as verdadeiras obras literárias. Mas o hipertexto, é justamente para atender os milhões de pessoas que, por qualquer razão ou motivo, não conseguem ler os livros. Pois bem, Flávio Nassar, mesmo escrevendo bem, descobrindo e reescrevendo histórias e personagens, que já passaram em Belém, nos dá agora e em livro, esse manancial que representa mais essa fonte de criação.
Creio que o autor já tem armazenado, o material para todos os links que o livro oferece. Se não fosse uma obra da época do computador, poderia dizer que ele já deveria ter publicado, no próprio livro, um importante glossário, para o leitor que não conheça ou não se lembre da história do Pará e da vida de seus personagens mais característicos ou mais importantes.
Abarcar a rica história de Belém nesses quatro séculos, num livro que não chega a cem páginas, é urna tarefa que só pode ser feita com muita criatividade e utilizando elementos que são oferecidos pela tecnologia que está instituindo uma nova economia e um novo comportamento para toda a humanidade.
Embora eu já tenha escrito os meus contos e romances desde 1970, em forma de hipertexto, Flávio Nassar oferece ao público leitor, o próprio hipertexto, que pode ser desdobrado em muitos links, capazes de informar e de emocionar os leitores mais exigentes.
Agora, só tenho que agradecer a minha inclusão ao lado do meu personagem Cabra da Peste no texto. Esta é unta prova que ainda estamos vivos. E é também urna demonstração de como o hipertexto é capaz de incluir nas suas linhas, não só as pessoas mortas ou vivas, mas até aquelas que foram apenas inventadas em contos ou romances.

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